Iván Duque, candidato direitista e afilhado político do ex-presidente Álvaro Uribe foi o vencedor nas eleições presidenciais de 17/06/2018 em que derrotou o candidato da esquerda Gustavo Petro. Duque se elegeu tecendo críticas ao acordo firmado pelo presidente Juan Manuel Santos com as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), a guerrilha de esquerda de inspiração marxista, em 2016, após quatro anos de negociações, que propõe terminar um conflito de mais de cinco décadas.
O novo presidente não defende anular os acordos (legalmente estão protegidos de mudanças até 2026), mas propõe mudanças em seu conteúdo com maior responsabilização criminal dos guerrilheiros e questionamentos referentes a dinheiro e armas que, segundo ele, não teriam sido entregues após o fechamento do acordo. Critica também o fim da política de erradicação dos cultivos de coca através da fumigação aérea dos cultivos. O governo Santos justificou a medida por motivo de saúde pública, alegando que o glifosato – o herbicida usado para destruir as plantações de coca – é cancerígeno.
Uma primeira versão do acordo com as FARC foi rejeitada em plebiscito e ajustes foram feitos tornando o pacto menos concessivo aos guerrilheiros. Uma segunda versão, desta vez sem consulta popular, foi aprovada pelo congresso, onde Santos tinha maioria. Além das FARC outra guerrilha de esquerda, o Exército de Libertação Nacional (ELN, em espanhol), e também outros grupos como a Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC, em espanhol), estes, paramilitares de direita, seguem atuando no país. Duque, embora crítico às negociações nos termos aceitos por Santos, não excluiu a possibilidade de novas negociações. Tem sido algo mais moderado nas declarações após a vitória em comparação à campanha, em relação a este tema.
Assim como o México, a Colômbia não experimentou governos de esquerda a partir da década de 2000, como muitos outros países na América Latina, em especial na América do Sul. Mas viu a esquerda crescer muito nessas eleições e ter um resultado bastante expressivo. O ex-prefeito de Bogotá Gustavo Petro teve 8 milhões de votos no segundo turno (o segundo colocado na Colômbia ganha cadeira de Senador no Parlamento) e as forças de esquerda tiveram o melhor resultado eleitoral da história. O mérito de Petro foi conquistar eleitores normalmente apáticos e que não participam da política.
Essa hegemonia da direita fez com que a Colômbia tivesse governos de orientação liberal na economia buscando explorar as vantagens de um país dotado de muitos recursos naturais como petróleo (bastante importante na economia do país), ouro, prata, esmeraldas, platina e carvão. Além disso é um dos principais produtores de café do mundo. Tem buscado os acordos de livre-comércio como, por exemplo, a Aliança do Pacífico com México, Peru e Chile (todos, até aqui, também com orientação liberal nas últimas décadas). Com exceção do México (que possui as maquiladoras de fabricantes industriais norte-americanos) todos também dedicados a exportar suas matérias primas. Beneficiado como o boom dos preços das commodities a economia colombiana cresceu expressivamente a partir da década de 2000 (embora o crescimento tenha se reduzido, de 2% a 3% no período de 2013-2017 ). Mesmo assim 40% da população colombiana continuava abaixo da linha de pobreza e a maior parte dos empregos gerados a partir da reforma trabalhista de Álvaro Uribe são precários. A partir da relativa pacificação (redução dos níveis de violência, embora ainda bastante elevados, comparáveis às metrópoles brasileiras) conseguida com a desarticulação dos cartéis de drogas de Medellín e Cali o governo da Colômbia buscou aumentar expressivamente os investimentos em infraestrutura, especialmente em transportes e comunicações, ambas muito deficientes. O país continua extraordinariamente desigual. Não é apenas a guerrilha e os cartéis que prejudicavam o PIB. O fim dos conflitos não significará, por si só, a melhoria da situação econômica de amplos setores populares da Colômbia.
A Colômbia vem sendo bastante próxima dos Estados Unidos nas últimas décadas e peça importante na “guerra às drogas” promovida pelos norte-americanos. Lançado em 1999, o “Plano Colômbia”, na gestão Clinton, se apresentava como instrumento para o combate à produção e comercialização de drogas ( contudo, o envio de cocaína colombiana para os EUA não caiu no período) mas que serviu para enfraquecer as FARC, o que, para vários estudiosos da questão, era o real objetivo norte-americano.
Recentemente anunciou sua adesão à OCDE e aderiu, como “sócio global” `a Organização para o Tratado do Atlântico Norte (NATO). A fraqueza política do Brasil neste momento, em certa medida, explica estes movimentos da Colômbia, que também, como o próprio Brasil, tem se afastado da Unasul (União das Nações Sul-Americanas). Em relação à OTAN, a adesão da Colômbia pode significar que exista vontade de interferir, em última instância militarmente, nos assuntos da política regional da América do Sul.
Foto: Marco Miranda / Presidencia de la República
Texto originalmente publicado em 2018.
Wagner Sousa é Doutor em Economia Política Internacional pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e Editor de América Latina.